sábado, 2 de agosto de 2008

Três Tempos




Título original: Zui hao de shi guang
Realização: Hou Hsiao-Hsien
Ano: 2005

Hou Hsiao-Hsien, realizador Taiwanês com carreira iniciada por volta do fim dos anos 70, é um dos nomes mais sonantes do cinema asiático contemporâneo e mesmo do cinema mundial. Pouco conhecido por estes lados, onde nunca teve grande divulgação, estrearam durante este ano, assim de rajada, os seus dois mais recentes filmes nas salas nacionais: O Voo do Balão Vermelho, de 2007, e Três Tempos, de 2005. Confesso que me incluía no grupo dos que conhecia Hsiao-Hsien só pela reputação e pelas maravilhas que dele me contavam, e foi por isso com grande expectativa que encarei a estreia destes dois filmes. Mas depois de ter visto Três Tempos, perdi toda a vontade de ver O Voo do Balão Vermelho ou outro filme qualquer que ele tenha escrito ou realizado.

Nem sei bem por onde começar a falar deste Três tempos. Correndo o risco de ir contra a opinião de muitos críticos e apreciadores do estilo de Hsiao-Hsien, ver este filme até ao fim foi uma das experiências mais entediantes que tive numa sala de cinema. Já nem me lembro da última vez que me deu uma vontade tão grande de sair porta fora, de estar a ver o filme da sala ao lado, de ter deixado a panela ao lume. Tenho por hábito ver os filmes até ao fim e este não foi excepção, mas posso garantir que apenas uma pequena parte das pessoas será capaz de aguentar até à última cena.

Mas vamos começar pelo princípio. O filme conta três histórias de amor em três tempos diferentes, utilizando sempre a mesma dupla de actores: Qi Shu, que para quem não percebe nada de Chinês é nome de mulher, e Chen Chang, que é o homem. As histórias passam-se, respectivamente, em 1966, 1911 e 2005. Tirando o facto de serem todos aborrecidos em graus diferentes, estes três segmentos pouco têm a ver uns com os outros, quer em termos de estilo, cenários e principalmente ambientes.

A primeira parte, em 1966, é sobre um homem que se apaixona por uma empregada de um salão de bilhar, mas que por azar tem de regressar para o serviço militar. Ele promete escrever-lhe, e assim o faz, mas quando regressa descobre que ela já não se encontra na mesma cidade, e parte em viagem à procura da amada. É tudo muito lento, a câmara está estática na maior parte das vezes e para mal dos nossos pecados ainda somos obrigados a assistir a jogos de bilhar intermináveis. É suposto ser uma simples história de amor, o resultado é um tédio de primeira. Diálogos é quando o Confúcio faz anos e na esmagadora maioria do tempo estamos a ver acções do dia-a-dia, como varrer ou andar de bicicleta, onde literalmente não se passa nada. Não há um sentimento escondido, não há um objectivo, é simplesmente pessoas a varrer ou a andar de bicicleta.

E se acham a primeira parte má, é só porque ainda não viram a segunda. Passada em 1911, Hsiao-Hsien teve a brilhante ideia de substituir as falas por cartões com legendas das falas, género filmes mudos ou Bucha e o Estica, que meia volta ainda dá na Rtp2. Se na primeira parte não se passava nada, aqui não se passa nada elevado ao quadrado. É realmente doloroso atravessar esta segunda parte. A falta de diálogos audíveis leva quase ao desespero. A banda sonora, que toca sem uma única interrupção - um piano intercalado com umas músicas horríveis cantadas por uma das actrizes -, é do tipo não mata mas moí que mais para o fim nos leva à demência. Quanto à história em si, confesso que nem percebi muito bem. Tem a ver com amor e mete para lá mais umas tretas, mas também não interessa ao pai natal. Sem dúvida alguma, o mais fraco dos segmentos.

A terceira parte é, mas bem de longe, a melhor. Estamos em 2005, na confusão urbana. Jing (Shu Qi) é uma jovem que mantêm uma relação homossexual, ao mesmo tempo que vai para a cama com um fotógrafo que a persegue. Incapaz de escolher, cambaleia entre estes dois lados. Pela primeira vez, no desenrolar das três histórias, os dois actores principais beijam-se e até vão por aí adiante. Hsiao-Hsien consegue mostrar com eficácia a vulnerabilidade de Shu Qi perante uma cidade que não pára, que não dá tréguas. A beleza de Shu Qi faz o resto. Os diálogos continuam reduzidos ao mínimo e as cenas longas e sem grande objectivo também cá andam, mas parecem fazer um bocado mais de sentido. Por este último segmento, quase vale a pena a ida ao cinema. O que se calhar não quer dizer que seja assim tão bom quanto isso, mas que as outras duas partes foram tão más que até se nos pusessem o Adam Sandler à frente, ele ia parecer o Woody Allen

Em termos visuais, o filme é brilhante. O problema é que isso pouco interessa quando não há uma narrativa que o sustente. É um filme artístico, para ser apreciado dentro de um pequeno círculo que ali consegue ver algum significado ou retrato brilhante sobre o amor ou o que quiserem. O diálogo e a própria acção são meros acessórios para a construção da fotografia e das imagens, que parecem ser o verdadeiro interesse de Hsiao-Hsien. Se forem apreciadores deste estilo, aconselho vivamente. Se, como eu, não tiverem pachorra para tiques e maneirismos estilísticos de objectivo nulo e mensagem muito dúbia, afastem-se o mais que puderam.

Classificação: 1/10

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