quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Michael Clayton




Título Orginal: Michael Clayton
Realização: Tony Gilroy
Ano: 2007

Michael Clayton marca a estreia na realização de Tony Gilroy, mais conhecido na indústria pelos seus dotes como argumentista - é ele o responsável pela escrita da trilogia Bourne, entre outros filmes menos afamados. Mas ao contrário dos filmes de Bourne, aqui a acção é pausada, pensada, mais nervosa no interior. Os ambientes são obscuros, nocturnos e tensos. Quando nos apercebemos que é um thriller, já o thriller vai mais que a meio. Até esse ponto, estamos entretidos com o lado humano das personagens, os seus fantasmas, os seus remorsos. Os diálogos são reduzidos a pouco mais do que o essencial, cada olhar e gesto das personagens é estudado para criar suspense, para fazer crescer o incómodo. Não há uma única cena de acção onde a velocidade seja o essencial, não há correrias nem tiroteios no meio da rua, não há a tensão do género "desactiva a bomba mesmo no último segundo". Ainda que tenhamos direito a uma explosão de um carro e a um homicídio encomendado, até esses momentos são filmados de forma crua e lenta.

Michael Clayton, interpretado por um brilhante George Clooney, é um advogado que trabalha para uma importante firma de advogados, em Nova Iorque. Mas Michael não é um advogado qualquer, ele actua nas sombras, nos bastidores. Trata da roupa suja com o máximo de descrição, e é óptimo no que faz. Como o próprio afirma durante o filme, não é um milagreiro, é um zelador. Escusado será dizer, trabalha numa fronteira muito ténue da moralidade, e é esse o principal tema do filme: a ganância, a mentira, o vale-tudo empresarial e até que ponto as personagens estão dispostas a vender-se.

Michael é influente e poderoso, veste-se elegantemente, conduz um Mercedes, tem uma aparência perfeita. Mas nos seus olhos nota-se o medo e o desgaste de uma vida de farsas. Na vida pessoal, as coisas não vão muito melhor. Divorciado, viciado no jogo, falido e com dívidas até ao pescoço, fruto de um investimento falhado num restaurante, afunda-se nos seus próprios erros. Marty Bach (Sydney Pollack) é o chefe da empresa que Michael representa, e Arthur Edens (Tom Wilkinson) é um dos sócios e um dos melhores advogados. Quando Arthur perde a postura e quem sabe um pouco da saúde mental, acabando nu pelo parque de estacionamento uma reunião com a empresa que representa e os queixosos, é Michael que é chamado para tratar do assunto o mais rapidamente possível.

Arthur, durante seis anos, foi o advogado de uma empresa de químicos agrícolas chamada U-North, envolvida num processo por vendas de químicos perigosos que resultou na morte de algumas pessoas. Enquanto o processo se arrastar sem resolução, a U-North está satisfeita. Mas quando Arthur se vira contra a própria empresa que representa, os seus responsáveis, especialmente Karen Crowder (Tilda Swinton), ficam nervosos. Consumido pela culpa e apaixonado por uma rapariga pertence a uma família de queixosos, Arthur não parece disposto a voltar a vender a alma. Para mais tem nas suas mãos o memorando que, sem margem para dúvidas, mostra que a U-North é responsável pela venda deliberada de produtos perigosos para a saúde.

Michael está preso num dilema moral. Por um lado, é amigo de Arthur e a sua consciência começa também a pesar-lhe, mas por outro lado necessita desesperadamente do emprego para saldar as dívidas que contraiu. A própria Karen, cerebral e por isso num cargo de topo na U-North, não sabe como reagir. Sempre com um olho mais aberto nas personagens do que na acção em si, vemos como reagem ao desenrolar de uma história que a certo ponto foge ao controlo de todos.

Num filme que se baseia muito na tensão que vai criando gradualmente, é nos actores que está o segredo da grande parte do sucesso que o filme obteve. Tom Wilkinson, Sydney Pollack, Tilda Swinton e principalmente George Clooney têm, cada um a seu jeito, interpretações fantásticas, dando uma densidade às personagens que se baseia nas expressões e pequenos esgares. É o thriller empresarial reinventado por Gilroy, só que aqui é tudo mais humano, o fascínio nunca existe, o dinheiro que rola nos bolsos de Michael não é tanto quanto isso e o glamour desaparece depois de um ou dois minutos de filme.

O final podia ter sido melhorzinho, mas aceita-se bem. George Clooney, depois de “Good Night, and Good Luck”, "Syriana" e "The Good German" volta a dar-nos mais uma demonstração de que está disposto a afastar-se dos pré-fabricados de Hollywood, em detrimento de filmes onde realmente tenha uma palavra a dizer e um papel a desempenhar que não apenas o de ter o nome na ficha técnica para vender bilhetes. Bom entretenimento, inteligente e um espelho da sociedade moderna, Michael Clayton não é obrigatório, mas é sem dúvida um filme que não vão querer perder.

Classificação: 7/10

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