sábado, 19 de julho de 2008

Into The Wild



Título Original: Into The Wild

Realização: Sean Penn

Ano: 2007

Um belo dia pegamos nas nossas trochas, metemos a mochila às costas, apanhamos um autocarro ou um comboio e vamos sozinhos e sem compromissos, à descoberta do mundo, sem prazo para regressar. O vento, a liberdade, a natureza. Quem é que nunca teve vontade de fazer essa viagem sedutora, principalmente entre os jovens? A diferença é que enquanto uns sonham, Chris McCandless (Emile Hirsch), no verão de 1990, fez-se à estrada. Into The Wild, baseado no livro homónimo de Jon Krakauer, conta a história verídica de um jovem americano de classe média que, desencantado com a sociedade, abandona a família, os bens, o dinheiro e a própria identidade para partir com destino ao Alasca. Durante dois anos, Chris percorre os Estados Unidos e encontra-se com várias pessoas pelo caminho até chegar ao Alasca, onde sem mantimentos nem auxílio acaba por morrer de fome e de envenenamento provocado por plantas não comestíveis.
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Sean Penn, mais habituado a trabalhar à frente das câmaras do que na realização, é também famoso por ser um espírito livre, avesso à celebridade e crítico de muitos aspectos da política e da sociedade. É notória a paixão com que filma Chris, o fascínio que a história lhe provoca. E como é tudo real e não tem cá de se fingir nada, sai natural. Num filme longo e irregular, a vitalidade e paixão com que Sean Penn filma é mesmo o seu ponto mais forte.

No início, conhecemos Chris antes de encetar a viagem. Acabado de se graduar com uma excelente média, tem um futuro promissor pela frente, com grandes possiblidades de entrar na universidade de Harvard. Mas nem tudo vai bem na cabeça de Chris. Idealista por natureza, não lhe interessa a carreira, o dinheiro ou os bens materiais, e tudo o que consegue ver pela frente é a hipocrisia das pessoas e a artificialidade da sociedade. Só nos livros e nos autores famosos consegue encontrar algum conforto ou sentido na sua existência. Torna-se um alienado, por escolha própria. A relação com os pais, presos num casamento de fachada, é extremamente conflituosa. Chris não os entende nem o porquê de continuaram juntos, e nem ele nem a irmã saíram psicologicamente impunes às inúmeras discussões que ocorriam em casa.

Numa decisão que parecia já tomada há muito tempo, Chris parte com destino final ao Alasca, simbolo da verdadeira vivência solitária com a natureza, os animais, o universo. Queima o dinheiro, parte os cartões de crédito e não dá justificações a ninguém sobre o seu destino. Nem mesmo à irmã, com quem mantinha um bom relacionamento. O que quer que a nossa consciência nos diga sobre se a atitude de Chris foi a mais correcta ou não, isso vai influenciar a forma como vemos o filme. Sean Penn falha em relacionar-nos com as razões da fuga de Chris, que é retratado como um miúdo mimado que considera que tudo está mal e só ele possui a chave para a pureza e para a verdade. Todos passamos por estas fases, mas a maior parte limita-se a inscrever-se num partido maoista qualquer, até a coisa passar.

Isto não quer dizer que não nos relacionemos com a personagem. Apesar de podermos não compreender o que o leva a tomar algumas atitudes, Emile Hirsch, com uma interpretação brilhante, faz com que seja impossível não gostarmos de Chris. No decorrer da viagem, encontra-se com personagens como Rainey e Jan (Brian Dieker and Catherine Keener), um casal de hippies parados anos 70, Wayne (Vince Vaughn), um lavrador de terras, e Ron (Hal Holbrook), um homem de idade avançado que perdeu a mulher e o filho durante a juventude e nunca mais conseguiu refazer a sua vida. Todos eles são, de uma forma ou outra, tocados pela presença de Chris, e todos eles o avisam para a tolice que é ir para o Alasca. Destes contactos alguns são bem conseguidos, com momentos de grande qualidade - como os proporcionados por Vince Vaughn. Noutras alturas, parece que estamos enterrados em pieguices e sentimentalismos até ao pescoço.

Se por um lado Sean Penn não se preocupa muito em ter um olhar distanciado para a experiência de Chris, mostrando-nos o fascínio da liberdade, é quando entra no territorio de procurar a tristeza num jovem perdido, sem rumo, e magoado com os pais que resulta melhor. Infelizmente, essa é uma parte pouco explorada e que, sempre que prometia chegar mais longe, era cortada por uma lamechice ou um cliché qualquer.

Com um trabalho de fotografia fantástico e alguns momentos que não lhe ficam atrás, Into The Wild consegue, a espaços, ser um bom retrato de como a vida pode ser gratificante no contacto com outras pessoas, e de como a procura de um lugar no mundo pode ser dura. No entanto, alonga-se por uns duros 148 minutos, muitos deles dispensáveis. Fosse mais equilibrado e tínhamos um filme para não esquecer tão cedo. Sean Penn promete, esperemos que da proxima cumpra.

Classificação: 6/10

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