sábado, 20 de dezembro de 2008

Paris



Título Original: Paris
Realização: Cédric Klapisch
Ano: 2008

Não há volta a dar: Paris é a cidade romântica, a cidade dos amantes, cheia de um certo charme e glamour especial. Todos os românticos que se prezam sonham com um dia se apaixonarem perdidamente sobre as luzes de natal da Torre Eiffel, embora a realidade nos mostre que é bem mais provável que esses momentos aconteçam junto a um bairro social na Amadora, na altura em que a electricidade vai abaixo. E para quem sabe bem o que são as amarguras da realidade e quanto elas custam, nada como visitar os sonhos através dos filmes. O grande ecrã, nos últimos tempos, tem-nos dado mais do que boas razões para saborearmos um pouco do que é a capital das luzes: "O Fabuloso Destino de Amélie", os dois filmes de Christophe Honoré, "Paris, Je t'aime", "2 Dias em Paris" ou o mais recente "Paris".

Todos eles, de uma forma mais ou menos declarada, incluem a cidade como parte da história. Neste "Paris", de Cédric Klapisch, transforma-se mesmo no ponto central que liga todas as personagens, o coração do filme. Com uma narrativa em mosaico, seguimos as aventuras e desventuras dramáticas de várias pessoas, unidas por esse factor tão simples, mas tão determinante. É como se o estilo de Robert Altman se tivesse fundido ao amor demonstrada por Woody Allen a Nova Iorque, em "Manhattan". Imaginem esse cenário e apreciem. Depois, voltem a pensar no mesmo, mas muitos furos abaixo em termos de qualidade, e têm "Paris". Uma homenagem ligeira, bem-humorada e calorosa, ideal para ultrapassar estes dias em que o frio aperta.

A personagem central é Pierre (Romain Duris, o menino bonito do cinema francês), um bailarino que descobre sofrer de uma grave doença no coração, que a qualquer momento o pode levar à morte. Confrontado com esta situação, e proibido pelos médicos de trabalhar, Pierre passa os dias em casa, a contemplar a vida dos transeuntes através da varanda da sala. A sua companhia principal companhia é a irmã, Elise (Juliette Binoche), que vive atormentada pelo facto de não ter grande sorte com o sexo oposto. Mas Pierre é apenas uma rampa de lançamento para todas as narrativas paralelas, porque como ele próprio experiência todos os dias, a vida lá fora não pára devido aos problemas de ninguém.

O problema é que nem todas as histórias têm o mesmo interesse. E as que nos colam ao ecrã acabam por saber a pouco, já que sofrem do problema de falta de tempo para se desenvolverem convenientemente - apesar de "Paris" durar aproximadamente 2h. Assim sendo, fica a amarga sensação de que falta sentimento ao filme, que com tantas personagens se torna desequilibrado e se perde em alguns momentos de aborrecimento, sem que ninguém perceba muito bem onde é que o realizador nos quer levar. Mas o filme tem ritmo, um elenco de luxo, algumas surpresas pelo caminho e um óptimo trabalho de fotografia, o que quase nos faz esquecer estas pequenos falhas.

E, acima de tudo, tem uma espectacular interpretação de Fabrice Luchini como Roland, um professor de história universitário apaixonado por uma das suas estudantes, Judith (Mélanie Verneuil). Roland merecia a completa atenção das duas horas de filme. Em tudo as suas acções e decisões, é ele que lança os foguetes, faz a festa e no final ainda apanha as canas. Atravessa uma crise de meia-idade e está mergulhado em angústias, neuroses e ideias disparatadas. Para mais vê no seu irmão, que tem a típica vida perfeita, em completo contraste com a sua personalidade, uma ameaça. Os principais momentos de humor são da sua responsabilidade, assim como os mais dramáticos - a forma como Judith interrompe a relação que mantinham é a cena mais cruel de "Paris". E a naturalidade e resignação com que Roland encara a rejeição e os contratempos, só isso é merecedor de uma visita a este filme.

Pena é, como já disse, que Cédric Klapisch não tenha aproveitado melhor as capacidades de Fabrice Luchini . O mesmo se aplica a Romain Duris, fantástico actor que fica muito aquém das suas capacidades, e cuja personagem nunca deixa de soar a cliché. A espaços, o argumento torna-se também demasiado simbólico e lamechas, um pouco ao estilo novelesco. Falta-lhe consistência, mas sobra-lhe vontade de mostrar alguma coisa. E no final, é impossível não sentir a melancolia no ar, enquanto Klapisch se vai despedindo com várias imagens de Paris e dos seus habitantes. Não é perfeito, longe disso, mas não deixa de ser uma interessante viagem ao mundo de pessoas normais, com problemas banais, que sofrem e amam conforme a vida o vai permitindo.


Classificação: 6/10

Sem comentários: