quinta-feira, 10 de julho de 2008

Luzes no Crepúsculo




Título original: Laitakaupungin valot
Realização: Aki Kaurismäki
Ano: 2006

Aki Kaurismäki é um realizador Finlandês, relativamente conhecido e apreciado dentro do circuito de pessoas ligadas ao cinema independente e de autor. Luzes no Crepúsculo fecha uma trilogia iniciada com "Nuvens Passageiras" (sobre o desemprego) e "Um Homem sem Passado" (sobre os desalojados), e tem como tema central a solidão. As personagens de Kaurismäki são seres absurdos, autênticos falhados, e infelizmente parece que os filmes não se ficam a rir. Não digo todos, porque para além deste só vi "Um Homem sem Passado", mas pela amostra não me arrisco a outra sessão onde o nome de Kaurismäki apareça envolvido, nem que seja como figurante. Como dizia a minha avó, à primeira todos caiem, à segunda caí quem quer e à terceira só caí quem é burro.

Se "Um Homem sem Passado" era muito estranho, mas conseguia ainda assim fazer sentido e ter uma certa piada, dentro do seu estilo, Luzes no Crepúsculo é simplesmente uma fantochada pegada. Espécie de film-noir com um look retro, melodrama pesado e expressionista, centra-se em Koiskinen (Janne Hyytiainen), um solitário guarda-nocturno de um centro comercial que tem o sonho de um dia abrir a sua própria empresa de segurança e elevar a sua miserável condição de vida. Gozado pelos colegas pelo seu feitio reservado, tem como única amiga uma vendedora de salsichas numa roulote, Aila (Maria Heiskanen), que se percebe estar apaixonada por ele. Até que um dia uma femme-fatale supostamente sensual, mas que na verdade parece ter enfaixado a cara na torradeira, Mirja (Maria Jarvenhelmi), mostra interesse em Koiskinen, que rapidamente fica completamente apanhado pela loira. No entanto, Mirja trabalha para uns mafiosos e é tudo um grande esquema para tirar o código de segurança do centro comercial a Koiskinen e roubar meia dúzia de jóias valiosas.

Quando isso acontece, Koiskinen é incriminado mas recusa-se a denunciar Mirja, embora saiba que foi ela que o tramou, e acaba por ser solto por falta de provas. Bom, agora é hora da vingança e deus queira que use a moto serra ou a rebarbadora, o Rambo ao pé dele vai parecer um menino e isto vai aquecer até escaldar, certo? Errado, ainda fica mais chato, não há vingança para ninguém e o filme alonga-se num teste cada vez maior há paciência até se chegar a uma sequência final completamente absurda (vá lá que só tem 77 minutos, mas garanto-vos que parecem muitos mais).

Kaurismäki mostra-nos uma Helsínquia miserável, fria e trágica, completamente diferente do bilhete-postal de uma das mais avançadas e organizadas cidades da Europa. Este acaba por ser o único ponto positivo do filme, mas até isso passado um bocado chateia e é elevado ao exagero. As paisagens desoladoras estendem-se sem que nada de interessante aconteça. Não há, durante os 77 minutos, uma única cara bonita no ecrã, e não estou a exagerar. Não sei, nem quero saber, onde é que foram desencantar aqueles figurantes, mas já vi muito boa gente no casal ventoso com um ar mais saudável e alegre.

E que dizer de Koiskinen? Ainda agora não consigo entender se tinha algum tipo de atraso mental ou apenas estacionou o cérebro em qualquer lado que agora de repente não se recorda. A certa altura, quando lhe perguntam como foi a sua estadia na prisão, responde qualquer coisa como: "Não podia sair, as portas estavam fechadas". E mais não disse. E a apatia com que recebe os azares que lhe vão acontecendo em catadupa candidatam-no a prémio Nobel da paz. Já para não falar da lamentável prestação do actor, Janne Hyytiainen, que não muda a expressão uma vez que seja, independentemente do sítio ou situação. Tudo bem que parece-me que a ideia era mesmo essa, passar a mensagem da inevitabilidade de uma vida em agonia, mas o que é demais...

É tudo lento, sem sentido, e mais absurdo que um Urso Polar em África. Como a vendedora de Salsichas, a única personagem relativamente normal no meio disto tudo, se interessa por Koiskinen, que não é capaz de dizer duas palavras seguidas que jeito tenha, é um grande mistério. Provavelmente, haverá quem consiga ver nesta obra uma fantástica reflexão sobre a condição humana, cheia de simbolismos, e uma crítica à sociedade moderna e mais blá, blá ,blá. Por mim, prefiro qualquer patetice do Adam Sandler, pelo menos não tem pretensões a ser mais do que uma forma de passar tempo. Se não forem virados para o género "intelectual", façam o favor de vos poupar a este massacre.

Classificação: 1/10

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