segunda-feira, 7 de julho de 2008

Lars e o Verdadeiro Amor


´
´
Título Original: Lars and the Real Girl
Realização: Craig Gillespie
Ano: 2007

Ryan Gosling é um dos mais promissores e talentosos actores da nova geração. Já o tinha demonstrado em Half Nelson - prestação que lhe valeu mesmo uma nomeação para os óscares - e se dúvidas houvesse, volta a prová-lo neste Lars e o verdadeiro amor. Filme independente que marca a estreia nas telas de Craig Gillespie, e com argumento da autoria de Nancy Oliver, conhecida pelas suas colaborações com Alan Ball na escrita de Sete Palmos de Terra, estamos perante um "feel-good movie", um "dramedy" daqueles que no fim nos fazem aquecer o coração e acreditar genuinamente que mesmo nas piores situações tudo vai correr pelo melhor.

A história é credível e tem óptimos diálogos e personagens, os actores secundários acompanham bem o ritmo, a realização, sem ser especialmente inspirada, também não compromete e tem o mérito de não ceder à tentação do facilitismo. Mas apesar disso, o verdadeiro espectáculo é mesmo Ryan Gosling.

Para quem olha para a lista de filmes em cartaz e lê a sinopse deste Lars e o verdadeiro amor, a coisa pode nem parecer prometer muito. Lars (Gosling) é um homem na casa dos 30 anos que, por circunstâncias várias do seu passado, se fecha cada vez mais no seu mundo. Tímido e incapaz de estabelecer relações com outras pessoas, inventa desculpas atrás de desculpas para evitar socializar com quem quer que seja. Até que um dia encomenda através da Internet uma boneca de silicone em tamanho real e anatomicamente perfeita, ou seja, com os "buracos" todos. Embora a sua função seja evidente, Lars convence-se de que a boneca, a quem chama Bianca, é uma mulher real e apresenta-a à família e à comunidade como sua namorada.

Lars leva Bianca para todo e lado e usa-a para suprimir a inaptidão social de que sofre. A conselho da psicólogo da terra, que considera inútil tentar dissuadir Lars da fantasia que criou, toda a comunidade concorda em tratar Bianca como se de uma pessoa normal se trata-se. E é aqui que o filme tem os melhores momentos. A inclusão de Bianca na vida social da vila, até chegar ao extremo de arranjar um emprego e ler para crianças num infantário, e a ternura com que as pessoas a tratam, preocupando-se com a sua aparência e bem-estar, provoco as situações mais surreais e divertidos da história.

Olhando para a premissa e para a maneira como se desenvolve, podíamos bem estar a falar de mais uma comédia de Sábado à tarde para ver entre duas sestas. Felizmente não é o caso, e é aqui que sobressai o talento dos envolvidos. Lars nunca nos é apresentado como um "maluquinho" com a cabeça virada para o Pólo Norte, mas como um ser humano que procura enfrentar as dificuldades da maneira que pode e sabe. Neste ponto Lars é como todos nós, e por isso acabamos por nos identificar com uma personagem que se envolve com uma boneca feita para o prazer sexual - quais as probabilidades de isto acontecer mais vezes?

A história desenvolve-se de forma lenta e despretensiosa, sem nunca cair no erro das soluções fáceis e dos diálogos demasiado sentimentais. Gosling, com uma performance a roçar a perfeição, nunca abandono o tom sereno e ligeiramente alheado da personagem, e nunca por um segundo nos faz duvidar de que Lars vê realmente em Bianca uma mulher real, de que tudo não é uma enorme encenação. O que por si só, se acontecesse, deitava o trabalho todo por água abaixo.

Lars e o verdadeiro amor tem uma pureza e honestidade que dão o brilho especial a um filme potencialmente banal. A certa altura perde um pouco da energia inicial e enrola sem sair do sítio, e também não se pode dizer que tem aquela "coisa a mais" que nos fazem recordar o filme durante muitos anos, mas nada que comprometa por aí além. É entretenimento inteligente, humano, surpreendente e capaz de nos recordar o valor da amizade e do amor. Que assim fosse a maior parte do cinema em cartaz.

Classificação: 7/10

Sem comentários: