sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Inimigos Públicos



Título Original: Public Enemies
Realização: Michael Mann
Ano: 2009

De Michael Mann, um dos mestres do cinema contemporâneo, vêem sempre boas notícias. Para os fãs de thrillers de acção de qualidade superior ainda mais. Desta feita, fazendo uso da câmara digital de alta definição, que já o havia acompanhado nos seus dois filmes anteriores - "Colateral" e "Miami Vice" -, traz-nos a história de John Dillinger, famoso gangster especialista em assaltos a bancos nos anos 30, numa América a atravessar a fase da grande depressão. Com Johnny Depp e Christian Bale nos principais papéis, todos os ingredientes estavam reunidos para mais uma obra memorável. Mas não foi bem isso que aconteceu. Embora longe de se tratar de um mau filme, "Public Enemies" nunca consegue atingir os níveis de brilhantismo que a qualidade dos nomes constantes na ficha técnica faziam prever.

Como bom filme de gangsters, temos o inevitável duelo entre dois homens carregados de carisma. Christian Bale interpreta o papel de Melvin Purvis, detective realista, meticuloso e sóbrio, encarregue de capturar Dillinger - isto apesar de Bale ser mais famoso em Hollywood pela tendência a ataques de fúria inesperados. E também não falta a trágica história de amor: Marion Cotillard - mais conhecida pelo seu papel como Edith Piaf - é Billie Frenchette, por quem Dillinger se perde de amores e a quem promete nunca abandonar. Promessas já se sabe, leva-as o vento, mas no caso de Dillinger não é bem assim: ele nunca as deixava por cumprir.

John Dillinger era um fora-da-lei, mas nem isso evitou que se transformasse numa figura importante da cultura popular, amado pela sociedade do seu tempo. Fazendo uso do seu charme, rígido código de ética - nunca roubava o dinheiro dos clientes, apenas dos bancos - e talento em escapar-se das prisões, transportava consigo uma aura de herói, evocando a lenda de Robin Hood. Quem melhor do que Johnny Depp para transpor todos estes elementos para o ecrã? Provavelmente ninguém. É uma das melhores interpretações do ano, mas traída por uma história permanentemente indecisa sobre qual o melhor caminho a seguir: se apresentar Dillinger como herói ou evidenciar a sua faceta fria, cruel e violenta. A ideia seria uma junção harmoniosa de uma coisa e outra, mas na verdade ficou-se a meio caminho. Ou seja, não se chegou a lado nenhum.

E não chegar a lado nenhum é mesmo outro dos problemas de "Public Enemies". Como é hábito em Mann, os acontecimentos vão-se desenrolando lentamente, levando o seu tempo, como uma brisa suave que, de súbito, e quase sem os espectadores darem por isso, se torna forte rajada de vento. Mas aqui raramente saímos da leve brisa que não chega para levantar os ânimos. E não é por escassez de cenas de acção espantosamente realizadas que tal acontece. Se calhar até são demais - vários actores entram e saem de cena tão rápidamente que nem chegamos a perceber o que andavam ao certo por lá a fazer. O que falta é um maior apelo e profundidade dramática das personagens. E sem isso, nada feito.

De facto, no que se refere à excelência da realização, não há um pormenor esquecido que se possa apontar. Tudo, desde os movimentos de câmara à banda sonora (fantástico cameo de Diana Krall), passando pela fotografia e os detalhes de época, está meticulosamente trabalhado. Mas quando falha o aspecto humano, as qualidades técnicas ficam relegadas para segundo plano. Tanta precisão factual levou a que "Public Enemies" não tenha conseguido a necessária ligação aos dias de hoje. Falta-lhe um sentido maior, que atravesse o filme de forma transversal e lhe dê outra grandeza. Assim sendo, é apenas uma obra de óptimo entretenimento e uma pedagógica lição de história.

Apesar do que foi dito acima, vale a pena reservar duas horas para ver este filme, mais não seja porque a Michael Mann perdoa-se tudo – ninguém nos tira a certeza de termos sempre "Heat" para nos relembrar o que é cinema de topo.


Classificação: 6/10

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