quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Contas à Vida - 80´s Os Dias da Rádio



Título Original: Radio Days
Realização: Woody Allen
Ano: 1987

Corro o sério risco de, um dia destes, ficar sem adjectivos para descrever o talento de Woody Allen. Nada mais merecido. Com uma longa filmografia, não existe um único filme na lista que não seja, à sua maneira, memorável. Radio Days não foge à regra, até porque esta difere de todas as outras num pequeno pormenor - até hoje, ainda não tem excepção. Desta feita, Woody Allen presta um tributo aos tempos dourados da rádio, antes de a televisão se tornar o grande meio de comunicação de massas.

É um olhar puramente nostálgico aos seus tempos de juventude, quando famílias inteiras ainda se reuniam nas salas e partilhavam o prazer de ouvirem rádio juntas. O jazz dominava as emissões e perfurava o silêncio dos lares, as pessoas deixavam a imaginação correr e sonhavam com o glamour das estrelas, com o mundo fantástico e misterioso que existia por detrás do transmissor.

Claro está que, na maior parte das vezes, esse "mundo fantástico" não era tão fantástico assim. Joe (Seth Green), alter-ego de Woody Allen, é uma criança pertencente a uma família de classe média-baixa. Para desespero da família, que não aprova o tempo excessivo que passa a ouvir rádio, Joe não perde as aventuras do seu herói, o Masked Avenger, que visualiza como um homem alto, forte e robusto. Na realidade, a voz por detrás do Masked Avenger é a do atarracado e careca Wallace Shawn. Mas enquanto a televisão mostra, a rádio deixa para a imaginação. É essa a sua beleza.

O filme não apresenta a estrutura narrativa a que estamos habituados, isto é, uma história com princípio, meio e fim. O que nos mostra consiste em episódios caricatos e isolados, situações sem ligação especial entre si mas onde a rádio tem um papel fundamental, nem que seja como pano de fundo. A acção centra-se principalmente na família de Joe e nas voltas e reviravoltas na vida de Sally White (Mia Farrow), uma aspirante a estrela de rádio sem o mínimo de talento nem grande inteligência. Tudo isto em época de grande incerteza, fruto do eclodir da 2º Guerra Mundial.

Como Woody Allen (narrador) faz questão de frisar logo no princípio, são as memórias que guarda dessa época que transporta para este filme, coincidam ou não inteiramente com a verdade dos factos. Não é por isso de estranhar o apelo nostálgico que tem sempre presente, o que aliado à magia e beleza de certos planos de Nova Iorque, nos faz desejar recuar no tempo para fazer uma visita a esse mundo mais simples.

Radio Days tem tantas personagens e histórias paralelas que nem vale a pena tentar descrevê-las. Vale a pena, no entanto, dar uma espreitadela à qualidade dos actores envolvidos: Diane Keaton, Jeff Daniels e Danny Aiello, entre outros. Trata-se uma comédia leve e cativante, sem grandes preocupações para além do entretenimento, e onde as pessoas e os sentimentos têm lugar de destaque. O trabalho de realização é simplesmente grandioso, ainda mais tendo em conta o número de cenas que requerem produções elaboradas e minuciosas, com imensos cenários, actores e figurantes envolvidos.

O resto é o que Woody Allen nos tem habituado. Diálogos hilariantes e gargalhadas garantidas, isto sem esquecer o lado emocional que atravessa, meio escondido, todo o filme. O romantismo da cena final, no telhado de um prédio em Nova Iorque iluminado por um néon, é capaz de convencer o mais feroz dos críticos. E é mesmo esse o principal trunfo do filme, o final. De uma maneira brilhante, Woody Allen diz adeus a toda uma época em que cresceu, ouvindo as vozes do rádio desvaneceram-se ao longe. Até eu, que nasci bem mais tarde, senti saudades desses dias.

Classificação: 8/10

1 comentário:

Unknown disse...

É um dos melhores filmes de Woody Allen mas pouca gente sabe disso...