quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Odete




Título Original: Odete
Realização: João Pedro Rodrigues
Ano: 2005

Embora por vezes a qualidade deixe um pouco a desejar, é sempre com entusiasmo e expectativa que acompanho o trabalho dos novos nomes do panorama cinematográfico em Portugal. Até ver Odete, desconhecia por completo as obras de João Pedro Rodrigues. Depois de ver Odete desejei que esse desconhecimento se tivesse mantido por muito mais tempo. Confessa que nem sei muito bem por onde começar a falar deste filme, tal foi o estado de perplexidade em que fiquei após o final. Já sabia à partida que se tratava de um filme estranho e fora do comum, mas até a imaginação, pelo menos a minha, tem limites.

Filme sobre personagens cuja sanidade mental já conheceu melhores dias, dá-me ideia que tamanha insanidade estendeu-se também a quem escreveu o guião, e a quem o leu e achou que estava ali uma ideia que valia a pena financiar e levar para a frente. Odete é uma obra mal realizada, pretensiosa, sem densidade dramática, sem diálogos dignos desse nome, e a lista podia continuar quase indefinidamente, não fosse o facto de se tornar fastidiosa. Não é por certo desta forma que o cinema em Portugal vai ganhar uma nova dimensão e outra relação com o público.

O filme abre com um beijo apaixonado entre um casal de namorados homossexual à porta de uma discoteca em Lisboa. Pedro e Rui comemoram um ano de namoro, e como prenda celebram a data com um dos diálogos mais forçados e vazios de sentido de que tenho memória. O guião não ajuda, é certo, mas a qualidade dos actores (Nuno Gil e João Carreira) é de deixar qualquer um com os cabelos em pé. Após trocarem juras de amor para sempre, Pedro pega no carro e tem um acidente logo à segunda curva, acabando morto em cima do capot, para desespero de Rui. Ainda a procissão vai no adro, e a vontade é já a de virar costas ao filme.

Se as coisas estavam más, quando Ana Cristina Oliveira (a Odete do título) entra em cena ficam ainda piores. Com uma falta de jeito natural para a representação, não existe uma fala, uma expressão da sua face que consiga reflectir sentimento algum. Tudo é mecânico e artificial, restando o facto consolador do seu papel não exigir muito mais do que deambular sem sentido pelo cemitério e pelo quarto do falecido Pedro. Mas apesar de tudo Ana Oliveira não deixa de ter um ponto a seu favor: no meio deste desastre, ainda esteve bem longe de ser o pior elemento.

Adiante. Odete é uma empregada de supermercado, daquelas que passeiam de patins pelas prateleiras e andam de caixa em caixa a resolver os problemas com os códigos de barras. Desesperada por ter um filho, tenta convencer o seu namorado (seríssimo candidato a pior actor do mundo) a ser pai. Perante a relutância deste, Odete tem um ataque de histeria, assim de repente e vindo do nada, e expulsa-o de sua casa, acabando a relação. É a partir deste momento que os problemas psicológicos começam a surgir em força. Apesar da relação entre Odete e Pedro se limitar ao facto dos dois viverem no mesmo prédio, Odete fica estranhamente e doentiamente obcecada por ele. O resto são diversas cenas intermináveis onde Odete ora se atira para cima do caixão pronto a enterrar de Pedro, ora lhe retira a aliança do dedo durante a cerimónia de corpo presente, ora passa os dias em frente à sua campa a olhar o horizonte. Como cereja no cimo do bolo, ainda está convencida de que está grávida de Pedro. Na realidade não está, trata-se apenas de uma gravidez histérica.

Entretanto Rui também está com graves problemas em aceitar a morte de Pedro e, depois de muita dor e choro, tenta o suicídio. Um pequeno detalhe impediu-o de ter sucesso: apenas cortou um dos pulsos. Através de situações totalmente inverosímeis Odete e Rui acabam por estabelecer um laço entre eles, sempre com Pedro como base. E a história fica-se por aqui, se é que lhe podemos chamar história. Sem o mínimo nexo e com personagens estereotipadas e desinteressantes, para fazer um elogio, arrasta-se em sequências patéticas cujo sentido ninguém entende, até chegarmos ao ponto em que torcemos para que as tentativas de suicido tenham de facto sucesso.

Mas o ramalhete não ficava completo sem as cenas de nudez e de sexo completamente gratuitas com que somos brindados. Se as personagens são masculinas, podem ter a certeza que passear por casa de pénis a dar-a-dar é a sua actividade favorita. Já Ana Oliveira tem muito mais cuidado relativamente ao que tem (ou não) vestido. A cena na sauna, onde um homem começa a apalpar as nádegas de Rui e acaba a fazer-lhe sexo oral, é de deitar por terra qualquer ideia de seriedade e mergulhar fundo no ridículo. E o final, com Odete montada em cima de um Rui totalmente nu a simular uma sessão de sexo anal, é digna de comediantes como Ricky Gervais ou Jerry Seinfeld. Se para mais não dá, ao menos umas boas gargalhadas estão garantidas.

Em Odete a falta de talento é visível em quase todos os aspectos. Em certas alturas torna-se deprimente de tão mau, noutras apenas aborrece e noutras ainda permite rir de tamanha falta de sentido. Nunca, em momento algum de cena alguma, nos faz preocupar com a história, as personagens ou o que seja que se está a passar no ecrã. Bom exemplo de um filme "artístico" e snob, que deseja ser mais do que pode e acaba por se estatelar forte e feio no meio do chão. Para quem viu já não há solução, quem não viu que siga o meu conselho: fujam a sete pés.


Classificação: 1/10

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