terça-feira, 4 de agosto de 2009

Contrato



Título Original: Contrato
Realização: Nicolau Breyner
Ano: 2009

Nicolau Breyner é presença assídua em quase tudo o que é filme nacional. Já todos nos habituamos a que assim seja, e nem nos importamos muito com isso, até porque se trata de um actor respeitável e com talento - qualidades que grande parte dos que por aí andam não se podem gabar de possuir. Só que desta vez, farto de estar à frente das câmaras a levar com as indicações dos outros, Nicolau decidiu inverter os papéis: meteu mãos à obra e tentou a sua sorte na realização. Visto desta forma, parece uma boa ideia. Afinal, depois de uma carreira recheada como actor, ninguém melhor do que ele conhece o meio em que está envolvido, os seus truques e perigos. Alguma coisa deve ter aprendido sobre como realizar um filme, certo? Errado. O resultado é um filme paupérrimo e risível, sem ponta de sentido ou interesse. Felizmente para os envolvidos, a fantochada ainda não paga imposto.

Já diz o povo que quando não se sabe fazer uma coisa, o melhor mesmo é estar quieto. Nicolau não é da mesma opinião, e quem sofre com isso é o público. "Contrato" é um filme de acção, um thriller baseado no romance "Requiem para Dom Quixote", de Dinis Machado. Feito com um baixo orçamento, "Contrato" poderia eventualmente ter alguma graça, não fosse o caso de se levar tão a sério que caí imediatamente no ridículo aos 5 minutos de filme. Peter McShade (Pedro Lima) é um assassino profissional que, após ter sido mal-sucedido no seu último trabalho, é contratado para matar Georgios Thanatos (Nicolau Breyner, ele mesmo), um importante chefe da máfia. Só que Peter não tem o trabalho tão facilitado quanto parece à primeira vista. Agredido por três homens, vai parar ao hospital, onde conhece Júlia (Cláudia Vieira), a enfermeira que trata de si - e muito bem, por sinal - durante esse período.

E quando tudo o resto falha, a receita é a do costume: mamas a saltar pelo ecrã fora, que sempre dá para animar a malta. Disfarça alguma coisa, é verdade, mas um par de mamas, por muito bom que seja, não justifica hora e meia de filme e muito menos o preço do bilhete. Cláudia Vieira aproveita qualquer desculpa para pôr cá para fora os seus atributos, em situações que tanto são embaraçosas ou ridículas, de tão más e forçadas que saem. O porquê de esta ter aceite protagonizar algumas dessas cenas é um mistério difícil de explicar, ainda mais quando o seu corpo é usado de forma tão evidente e descarada, sem o mínimo de necessidade para o desenrolar da história. Sempre deu para promover o filme e enganar alguns incautos, que de certo não irão esquecer tão cedo a lição.

O principal problema de "Contrato" está no argumento. A história não faz sentido, não chega para encher hora e meia e arrasta-se penosamente até um final totalmente falhado, em que tudo se explica em poucos minutos de forma atabalhoada. Tudo o resto poderia ser desculpado, não fosse o facto da narrativa apresentar falhas de consistência enormes. Não existe uma personagem bem construído, ritmo e construção da tensão nem vê-los e os diálogos são mais falsos que as minhas t-shirts da feira.

Do elenco, safam-se Vítor Norte e Nicolau Breyner. Cláudia Vieira e Sofia Aparício - que aparece por lá ninguém sabe bem a fazer o quê - estão claramente na profissão errada. Pedro Lima está assim-assim, mas com uma personagem tão pobre como a que lhe foi dada, não seria justo pedir-lhe para fazer melhor. Quanto ao trabalho de câmara, frio e distante, sem qualquer rasgo de originalidade, serve para um novela, mas é insuficiente para um filme. E depois temos o product placement, que de tão óbvio torna ainda mais ridículo todo o filme. "Contrato" é patrocinado pela Skoda, logo todas as personagens, bons e maus da fita, conduzem Skodas para todo o lado. E pelo meio, ainda há um diálogo a gabar as capacidades dos carros da marca.

Enfim, é tudo mau demais. Nicolau Breyner esqueceu-se que não está em Hollywood, e como tal que não tem nem o dinheiro nem a experiência que existe nos EUA para a realização de filmes de acção sérios e credíveis. Vendo o resultado final, outro tipo de abordagem, mais descontraída e atrevida, seria de todo o interesse. Se já vimos piores? Claro que sim. No entanto, já não faz sentido apostar em projectos de qualidade duvidosa, mortos à nascença. É brincar com o público e com o cinema português, que merecem obras de qualidade e não mamas a abanar para chamar gente aos cinemas. Deste cinema "mainstream" de trazer por casa, que merecia nem ver a luz do dia, já nós estamos mais que fartos. Se virem este filme em algum lado, façam um favor a vocês próprios: fujam.

Classificação: 1/10

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