quarta-feira, 9 de julho de 2008

The Darjeeling Limited




Título Original: The Darjeeling Limited
Realização: Wes Anderson
Ano: 2007

Quinta longa-metragem de Wes Anderson, e quinta vez que o realizador repete a dose: uma dramedy ao estilo e temas que o caracterizam, com Owen Wilson e Bill Murray metidos ao barulho. Se Wes Anderson não fosse o talento que é, isto até podia chatear realmente uma pessoa, assim torna-se apenas levemente aborrecido. Não que queira tirar o mérito aos seus anteriores filmes, em especial Rushmore e o fantástico The Royal Tenenbaums, mas parece evidente que Anderson já teve melhores dias. Neste The Darjeeling Limited somos obrigados a dar o braço a torcer relativamente à qualidade técnica e visual que apresenta, mas quando isso em nada acrescenta a uma história manca e que falha na maior parte dos momentos em que tenta aproximar o espectador das personagens, não só vale de muito pouco como ainda faz soar o alarme da artificialidade e do pretensiosismo. É caso para dizer que às vezes mais vale ficar quieto.

Acompanhamos a viagem de três irmãos, Francis (Owen wilson), Peter (Adrien Brody) e Jack (Jason Schwartzman), que não se vêem à cerca de um ano e reúnem-se, por iniciativa de Francis, para atravessar a Índia de comboio. A ideia é voltarem a criar um laço emocional que entretanto se perdera com a morte do pai e a ausência da mão ao funeral. Francis planeia a viagem ao pormenor, com itinerários feitos pelo seu ajudante e paragens previamente delineadas com o objectivo de encontrarem, nem que obrigados, uma qualquer redescoberta pessoal nas suas vidas. No entanto, esta suposta jornada espiritual não corre tão bem como isso e surgem constantemente contratempos que deitam por terra os planos de Francis.

Os dois irmãos não parecem muito convencidos com esta história da jornada espiritual e só continuam a alinhar por insistência de Francis. Na verdade, qualquer um deles está mais preocupado com os seus próprios problemas: Francis recupera de uma tentativa de suicídio; Peter está aterrorizado com a ideia de ser pai dentro de cerca de um mês e tem problemas de cleptomania que parecem resultar do choque da morte do pai - durante todo o filme usa os óculos de sol graduados do pai, que lhe provocam terríveis dores de cabeça - e Jack foge de uma relação amorosa fracassada.

A mudança de cenário para a Índia é uma aposta ganha, dando o ambiente de um mundo estranho a quem por si só já se encontra desenquadrado, e o comboio onde viajam, o The Darjeeling Limited, oferece um interessante espaço claustrofóbico, e ao mesmo tempo imenso, capaz de desenvolver os dramas das personagens e obrigá-las a lidar umas com as outras. E é dentro do comboio que o filme tem mais energia e interesse, porque quando este pára para visitar as várias cidades e monumentos é quase como quando o Cristiano Ronaldo decide parar de jogar: a coisa fica feia.

O problema, como já referi, não está nos cenários nem tão pouco no estilo visual apelativo e minucioso de Anderson. O que falha redondamente é que, conforme o filme e os dramas correm pela tela, ficamos ali sentados sem sentir o mínimo de preocupação pelo destino dos irmãos e pelos rumos que escolhem tomar. Anderson parece ter-se preocupado tanto em encher as personagens de maneirismos que esqueceu-se de nos pôr ao corrente da situação em que estes se encontram. Fica complicado identificar-nos com alguém, tanto mais que nem chegamos a perceber como é cada um por detrás dos tiques que demonstram. Olhamos para eles como pessoas estranhas a precisar urgentemente de um psicólogo, mas não entendemos o que os perturba.

No entanto, não se pode dizer que ver o filme seja uma experiência entediante. Um ou outro momento desenhado para ser mais sentimental - como quando tentam retirar uns miúdos de um rio e um deles acaba por morrer - estende-se em demasia e só pedimos a todos os santinhos para que termine depressa, mas no geral acontece sempre algo capaz de nos entreter. Embora falhe como drama, nas partes mais inspiradas resulta muito bem como comédia e arranca umas boas gargalhadas. Wilson, Brody e Schwartzman conseguem boa química entre si e qualquer um deles consegue dar um ar apelativo às personagens.

No final, The Darjeeling Limited é um filme sobre reconciliação emocional, sobre como ultrapassar as dificuldades e deixar o passado lá atrás. Originalmente desenhado para ser simples e simbólico, não consegue nem uma coisa nem outra. Acaba por ser, isso sim, óbvio na resolução dos problemas e mais do mesmo no seu desenvolvimento. Vale a pena ver, se possível sem grandes expectativas à partida. Mas de um filme do realizador que nos trouxe "The Royal Tenenbaums", eu sei que não é uma coisa fácil de se pedir.

O filme é antecedido por uma curta-metragem de cerca de dez minutos, chamada Hotel Chevalier. Serve como introdução à personagem de Schwartzman e tem Natalie Portman mais ou menos como veio ao mundo. Não esperam nada mais bonito nem na curta, nem na longa. Neste caso o melhor não ficou guardado para o fim.

Classificação: 5/10

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